"Cada segredo da alma de um escritor, cada experiência de sua vida, cada qualidade de sua mente está escrito em suas obras." - Virgínia Woolf.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
A mensagem
sexta-feira, 17 de dezembro de 2021
falar de amor...
para além de mim
que seja aquela flor que me quis
aquela flor que não cultivada em jardim
foi acarinhada por mim.
ou aquele verso
que um dia tentei escrever para ti
- a falar de ti, a falar para ti -
sem contúdo ter o tempo de o ser
para to dizer.
ou, ainda
que seja um pequeno sopro de ar
ou brisa nascida no teu mar.
se alguma coisa permanecer
para além de mim
que seja memória para nela viver.
fuga
quando o rio
desce a cidade
onde a noite
e tu caminhas
entre estrelas
perdido nos bolsos
às tuas mãos
prendem-se memórias
as gretas são a tua estória
feita de angústia
porque a noite
também caminha
e tu não sabes
mas tu caminhas
ainda
por sobre pedras
por entre feras
que ameaçam
que ferem
se não correres
são tão estreitas
corre na violência
dum precipício
e tu caminhas
mesmo sabendo do
na mesma estrada
e nela cresceste
e só ela conheceste.
caminhas ou é a estrada
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
distâncias
as estrelas
amanhã
2.
pudesse a noite ser dia
e varreria a escuridão
tão necessária
ao silêncio dos olhos.
pudesse o dia ser noite
e confundiria este pássaro
que, de cabeça sob a asa
sonha a madrugada.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
ai, sonho
de mim saiu
asas livres,
cavalo à solta,
sem rédeas,
jamais se prendeu
recorrente sonho,
sinto-o agora
como se o vento o apagasse
escrito,
numa praia
acredito que voltará
um dia... reviverá.
olharás meus olhos
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
de ti
levarei as longas madrugadas
e as noites contigo passadas.
levarei o sol das manhãs
e o canto da tua voz.
levarei as lágrimas caídas
em tardes desprovidas.
de ti
levaria todas as nascentes
puras e inocentes
no desejo da sede
que o olhar longe mede.
de ti
levaria essa água cristalina
a correr pela boca do Poema.
a ti
se não bastasse
e mesmo que a noite se calasse
voltaria à luz do teu olhar
num regresso sem parar.
terça-feira, 30 de novembro de 2021
como se fosse ar a respirar
fecho os olhos loucos
aos dias sombrios
à incompreensão
ao desencanto
à inquietação.
nada me fará confusão.
nada ouvirei e
da minha voz
um só som ao respirar
um só coração a latejar.
não haverá canto
ou sereias que me desviem
desse destino
neste caminho
ao teu encontro
com carinho
mesmo que pareça ilusão.
se tu quiseres
voltarei ao tempo esquecido
como se fosse ontem
e recomeçarei meus passos
com mãos estendidas
ao teu abraço.
se tu quiseres
serás de novo meu porto
meus cais
meu mundo ancorado
minha estrela
na tarde começada
como se o princípio do mundo
fosse a luz que me guia.
se tu quiseres, amor
faço deste dia interminável
o dia do nosso esplendor.
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
luz
dorme a cidade
e as nuvens escuras
deslizam suavemente
sobre os sentidos.
espreita a lua
as almas adormecidas
por entre a paixão
solitária
sem outra razão
que não, a certeza
do equilíbrio da matéria.
ruas vazias
e pouca iluminação
artifício
moderno duma civilização
aguardam o tráfego
desgastante
do dia-a-dia.
amanhã haverá outra luz
que a tudo nos conduz...
domingo, 28 de novembro de 2021
ecos
sábado, 27 de novembro de 2021
corpo presente
sob todos os ângulos
para ver uma imagem
multiplicada
em espelhos e planos e
da profunda visão
reflectida
veio-me a cristalina
certeza
melhor fora
a física aproximação.
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
esta nossa casa
onde já se não brinca
com bolas de sabão
na mágica descoberta
dum Universo em expansão.
esta nossa casa
onde o riso duma criança
se perdeu
e a memória se desvaneceu
como se o Mundo fosse um pião
lançado em rodopio
tão velho como qualquer ex-campeão
já cansado
de contemplar a sua destruição.
esta nossa casa
escureceu
pelas minhas e outra mãos e
a criança que fui
deixou de ser
onde tudo era inocência e criação.
e que a corda enrolada desse pião
mais parecia uma lança
a conquistar um coração.
mas se tu quiseres
- certo, amor?
na hora que chegar
voltarei a brincar
e lançarei os dados
sem nada ter a ganhar.
deitarei à sorte e esquecerei
que o nosso Mundo
deu um trambolhão.
esta nossa e velha casa
ainda não caiu
mas cada mais
a vejo mais pequena...
com pena.
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
Sina na mão
são brancas
como asas abertas do teu coração.
Leio-as - ou talvez não.
Tocá-las-ei por dentro
à luz do dia quando o sol brilha
e a transparência dos teus olhos
me digam se são verdadeiras
ou não.
terça-feira, 23 de novembro de 2021
marés
sem se revelar
esta bruma da manhã
sem levantar
que não deixa o olhar poisar.
o primeiro amor
a primeira ilha
a floresta virgem
e a frescura
num corpo desenhado
sem dor
e a memória etérea
que já foi
embarcada em mistério
por esses mares nunca
nunca alcançados.
domingo, 21 de novembro de 2021
A fome
Que eu vou p'ró mar
Ela é fresquinha
É como a prata
Não tenhas medo
Que o mar não mata.
terça-feira, 16 de novembro de 2021
novembro
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
O ladrão
Em tempos que já lá vão
Que escrevia como meta
As dores do coração
Tinha a louca paixão
De dormir durante o dia
E à noite pisar o chão
Até sentir o que via.
Porém, certa madrugada
Cansado de tanto andar
Olhou a cidade encantada
Sem saber como a amar
Sentou-se frente ao rio
Olhando a outra margem
E sentiu um forte arrepio
Por ter a vida em paragem
Não esperou pela demora
Do sol que não aquecia
Levantou-se, foi-se embora
Vendo que a vida o não queria
Em casa acabou de entrar
Deitando-se p'ra descansar
Mas na cama à sua espera
Estava a morte p'ro levar
- Chegou agora tua hora
Procurei-te p'la noite fora
Já que de dia não te via
Chegou agora a tua hora
Este é o momento que seria
Se antes a noite fosse dia!
- Tens o desejo ancorado
No teu peito sempre fechado
Do coração não abres mão
Tão cerrado na escuridão
Por isso levo-te comigo
E ficarei sempre a teu lado
Num escudo bem apertado
Onde eu sou só um ladrão!
(coisas antigas -poema não datado)
segunda-feira, 1 de novembro de 2021
tesouros
sábado, 23 de outubro de 2021
Compaixão
Inteira - num todo - esplendor
Seria assim
Esta visão quase sonho
Ou alucinação
Sem castração.
Não rio mas nascente
Corrente - em crescente fio
Seria amor
Esse sentimento adolescente
Sempre presente
Sem prisão.
Não mão mas coração
Palpitante - em peito aberto
Seria afeição
Essa carente ilusão
Ou utopia
Sem data sem oração.
Não... à sede do perdão
Mas sim à compaixão.
terça-feira, 12 de outubro de 2021
cais
rasgadas mágoas
e sulcos profundos da quilha.
na pele o desenho da noite
e espuma
em ventos cruzados.
a tormenta amansada
enfim
no porto seguro das tuas mãos.
sexta-feira, 1 de outubro de 2021
estorninho
estorninho,
pequenino
nada a despontar na alvorada
negro
pássaro
pequenino
ponto com coração a palpitar.
começa
o dia, partindo, e deixa a árvore abandonada
na
espera da chegada, onde haverá em voo picado de regressar e
encontrar
lugar.
junta-se
aos outros, em bandos que formam milhares,
nuvens
em voo no céu a clarear.
pequenino
nada, voa para além dos montes, a cruzar os céus,
na
perícia que aprendeu.
nunca
se perdeu.
apesar
de pequenino, o seu mundo é melhor que o meu. é tão livre que
não
sei onde vai, o que faz ou o que tem, para no ocaso à mesma árvore voltar..
nunca
se esqueceu. até hoje, que resolveu emigrar.
quereria
eu também partir?
talvez...
[meu
corpo não tem forma; nem ensejo; nem vontade de ser
outro
que não eu.]
mas,
ser aquele pássaro que cedo aprendeu a voar e,
logo
pela manhã, sonhar.
sentir-me
livre como o vento, e no meu pensamento um só desejo,
fazer-me
ar.
esquecer os silêncios que me fazem tudo recordar, ensurdecedores,
desde o acordar.
mergulhar...
no
vazio como se não houvesse amanhã,
ser
um corpo ligado ao espírito e um só destino a desbravar:
ser
como o ar a sobrevoar o extenso mar.
sem
regressar...
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
...
e no sonho, o choro
por teu choro largado.
mas acordado
sorris
aqui ao meu lado.
sábado, 11 de setembro de 2021
retalhos de vida
A tarde a chagar ao fim sem, antes, não aproveitar os últimos raios de sol para, "esplanadar" um pouco e beber umas " imperiais".
Tantas eram as mesas cheias de gente que esperei um pouco para disponibizarem mais.
Á chegada, distribui cumprimentos, em especial a uma velha amiga, a Carla, e falamos dos filhos (filhas) e da saudade do Mário, que à muito nos deixou: seis anos.
Qual não foi o meu espanto quando, na mesa em frente, depois de me sentar, vi a d. Maria José, mãe do Mário, de 93 anos, a comer um gelado.
Parecia mais pequena, mais solitária, mais triste. Estava tão bela que a sua branca cabeleira era as únicas nuvens no horizonte.
Fui ter com ela e disse-lhe que tinha estado a falar do filho (único) e da falta que nos fazia.
O Mário tinha sido piloto de hélis durante a guerra colonial, em Moçambique, e era dele a expressão "zigarolho", a máquina que pilotou.
Com a imensa bebida ingerida, no meio de dois casamentos falhados, lá deu cabo de dois fígados, um transplante, e uma vida de bagaço, logo pela manhã, até adormecer ou esquecer-se do caminho para casa.
Dei-lhe um beijinho e disse-lhe que ele deveria estar a olhar para nós, pela coincidência de ter estado a falar dele, com saudade.
Comovi-a e, no meio de recordações, disse-me que não sabia o que andava cá a fazer, - embora a sua casa tenha sido visitada pela Segurança Social e terem ficado admirados pela limpeza e actividade da sua longa idade, sozinha -, pois ainda agora tinha morrido um homem bom, quase da sua idade, o dr. Jorge Sampaio.
Disse-lhe que alguma razão haveria de haver...para cá continuar.
terça-feira, 7 de setembro de 2021
07-set-2021
hoje é o meu dia.
vou pensar em tudo para não pensar em nada.
meu grito do ipiranga foi há muito libertado.
tudo fechado a sete chaves.
- hoje é o meu dia
a ti o dedico!
sábado, 4 de setembro de 2021
côncavo e convexo
preciso de ti
mas também preciso do silêncio
em mim
sem ti.
preciso de estar só
comigo
sentir-te ausente
e desejar-te presente.
preciso, enfim...
preciso de pensar em ti.
domingo, 22 de agosto de 2021
o mar
de olhos fechados
trazia nos olhos os cais de embarque de
um navio já sem mar.
adivinhava-se-lhe uma tempestade
nas águas revoltas
quando dos seus passos uma
linha imprecisa se desenhava na amargura
da pedra.
outras vidas tinham sido a sua
quando, mais novo
nos caminhos de oceanos
conhecia um lar.
ainda se lembrava, vagamente,
o primeiro porto
onde o sol prometia horizontes
em ilhas virgens
para se poder encontrar
e, fazer sentido
do seu destino.
agora, perdeu a vontade de
partir
para esse, ou um
outro qualquer lugar
a que quisesse chamar seu e acostar.
já só quererá fechar os olhos
descansar e... ver o mar.
sexta-feira, 23 de julho de 2021
plenitude
![]() |
foto do autor |
Uma sinfonia de ausências
espalhava-se pelo corpo suspenso
como uma ave na copa das árvores
após escapar do cativeiro.
Sob a sombra imobilizadora da voz
ouvia longe os sons dum mar agitado
a bater nas fragas enraizadas
na teimosia duma existência sem fim.
Pensava naquela lua cheia de Agosto
a pratear-lhe o desgosto
em contraste com a harmonia deste dia.
Era um tempo que agora vinha despertá-lo
dentro do aconchego dormente da sua vida;
um desejo na hora vegetal; uma sêde
estendida ao sangue, em caudal de rios
intempestivos. E o movimento de todas as
árvores à sua volta, como se ele fosse um
minúsculo planeta, numa constelação de
recordações.
Dizem que as árvores morrem de pé
ao contrários dos homens com ou sem fé.
Deitado, via-as reclamarem da
incompreensão da sua linguagem, da sua
mensagem: o conhecimento dos ventos, da
imobilidade e do sofrimento; da luz crua das
manhãs; da chuva, benção e tormento; e das
noites solitárias em que, do silêncio, tiravam
prazer.
Incontidos os sentidos, sentia, no seu mais
profundo ser, todas as cores da alma
a dançarem, derramadas, na folhagem
verde daquele momento.
Estava só, mas tinha todo um mundo a
rodeá-lo.
domingo, 6 de junho de 2021
O jardim
Lembra-me um jardim
este meu sonho:
um banco, a sombra e tu
um pouco longe de mim.
Lembra-me
a árvore ao lado da clareira
(essa árvore que vivia em mim)
e no meio desta
o lago a espelhar-se entre o sol e
a sombreira.
Lembra-me a tua silhueta
ao fundo
e o entardecer a doirar a tua pele;
os aneis brilhantes
dos teus olhos, castanhos
e a doçura desta luz a pentear-te.
Lembra-me quando te aproximaste
e gravaste em mim
um coração cheio de perfume
e por baixo a palavra sem fim:
"amo-te".
Deste meu jardim
a árvore que vivia por mim
(acácia rubra de paixão)
deixou cair uma flor
ao teu regaço, amor
uma só flor essa que escolhi
e ta ofereci.
Lembra-me este sonho
como se acabasse de o sonhar
acordado
e o dia fosse igual
igual, nesse meu jardim.
sábado, 29 de maio de 2021
o leito
I.
tenho um rio dentro de mim
mas a minha sêde é a sede de
todas as angústias.
lá moram as mágoas que
não sabem nadar.
II.
Tu eras vida
ainda não crescida
eras tudo num pouco nada
pequena semente germinada
eras esperança na madrugada
eras o que meu destino almejava
eras o que não vi
e o meu amor em ti.
Tu eras tudo o que senti.
sábado, 15 de maio de 2021
meus olhos em ti
alguém que tem meus olhos
meus olhos vivem além
meus olhos servem um bem
em outros olhos de alguém.
alguém da minha janela
a esconder o nome dela
por serem tantos os nomes
sem saber qual deles o dera.
meus olhos vivem nos dela
meus olhos riem nos dela
e junto à minha janela
eu vejo-os no corpo dela.
são olhos herdados de mim
como olhos que outros não vi
serão sempre olhos em ti
que de meus não terão fim.
sexta-feira, 7 de maio de 2021
desatino
das margens do tempo
o coração arde
sem compreender porquê.
fosse eu um rio
apagaria o fogo desse desatino
com que queimas palavras
que deram nome às coisas.
das cinzas
que levariam aos teus olhos
novas formas
novos destinos.
... e correria para teus braços
como da primeira vez.
"- ai, a puta da ladeira está cada vez mais alta!".
quarta-feira, 5 de maio de 2021
Língua Portuguesa_ o sonho
construí um sonho tão leve como o ar
e do sonho quis que aprendesse
a voar.
nuvens e raios de sol
pairaram
nesse meu sonho
para que ele pudesse
ao céu chegar.
ainda ao longe o sonho viu
o azul do mar e
tanta terra a que chegar.
de braços abertos
esperou dos ventos
um abraço de asas
para se levitar.
e o meu sonho
iluminado
se fez na língua voar.
do chão enraizado
o sonho sonhou
com o coração a latejar
o infinito dum olhar.
domingo, 2 de maio de 2021
Mãe
A primeira palavra
Em cada verso teu
Mãe
E em cada letra
Um castelo de Amor
Dos dois.
É Maio. És Poema.
És a Primeira Primavera.
sábado, 24 de abril de 2021
O meu 25
Lisboa foi tomada.
Salgueiro Maia
- e os seus camaradas -
abandonou a parada
derrubou a ditadura
e voltou a casa
sem querer louros de nada.
Fez-se Abril
duma primavera que tarda em surgir.
domingo, 11 de abril de 2021
a arte da memória
o mar vem-me falar
dum tempo antigo
e tráz-me o cheiro
guardado
no museu fechado
do que sou eu.
nesses momentos
arejo o espaço
retiro o pó
abro a exposição
e começa o leilão
de pensamentos.
por fim
tudo é rematado
pelas ondas brancas
da memória.
mas meus olhos
perdem-se
no silêncio dos anos
e nas vozes extintas
deste mar
como se fossem sombras
presas
num império de luz
a cobrirem o azul dos sonhos.
domingo, 4 de abril de 2021
As palavras tardias
terça-feira, 30 de março de 2021
O lado B
Livro à cabeceira
Fechado
De sonho calado
Este Fado
Na página encerrada
A perder-se na madrugada.
Sem vaidade
Dorme a saudade
De voltar a ser estrela.
quinta-feira, 18 de março de 2021
encontro de olhares
quinta-feira, 4 de março de 2021
a ponte do terror
- nascida nas agitadas correntes
que foram sepultura de almas
e queda de anjos nas nossas mentes -
é uma flor virtual
com vinte anos de crescimento
e um tempo sem esquecimento.
(em memória das vítimas da ponte Entre-os-Rios - "Hintze Ribeiro")
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
margens
dum tempo escondido
o amor
perdido
algures
entre continentes
e as carícias
dormentes.
jovens delírios
em jardins esquecidos
e os beijos prometidos
sem nunca se darem por tidos.
recuam as palavras
no tempo
das sombras dobradas.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
Fala-me...
Fala-me da espera
nas estepes da escuridão
como astuta fera
a guardar crias e solidão.
Fala-me dos silêncios
que teus beijos selavam
em gritos de liberdade
que eu tolo de vaidade
não soube apreender
o valor inocente da verdade.
Fala-me, amor
como viveste antes do mundo
esse mundo desconhecido
para mim como inexistente.
Fala-me minha querida
da existência vivida
e da sorte da minha vida
na tua mão desprendida.
Fala-me como foi ....pois
um pouco de amor não é amor
mas serve de consolo na dor.
sonhar contigo
sonho com ela ou é ela
que no sonho sonha comigo?
sonho o que conheço sem
que o sonho seja sonho do avesso.
e do sonho
todo o sonho é baseado no real
tão parecido mas por vezes
distorcido
sem igual
como miscelânea sem sentido
na visão dum pequeno quintal
em noite sem luar.
e mesmo neste espaço imaginado
guardo as impressões como se
vivo fosse o sonho da vida a passar.
domingo, 14 de fevereiro de 2021
a curva
Para lá da curva, a estrada
continua?
Nada se vê, nada se sabe, mas
ainda... até passar a curva da
Vem isto a propósito da curva da
sábado, 6 de fevereiro de 2021
movimento
Retirei o poema do estendal
onde estava a secar.
Húmido e amarrotado
não o posso vestir
sem antes o engomar.
Amanhã é domingo
talvez não chova
talvez o possa passear.
2.
Se a vida fosse distraída
enganava-se na porta.
O carteiro tocou
para entregar um sopro de ar.
3.
Quando os valores
veem numa carta registada
há um défice de moral.
4.
Embalar a dor
é o mesmo que enganar o corpo.
Fica o espírito
sem saber para onde ir.
5.
Acordar a força
e respirar o mistério
das manhãs suspensas.
A noite pesou os prós e contras
nas contas
entre o deve e haver.
6.
Inquietação
é tanta
que já não se sabe onde pôr a mão.
Há sempre alguém
que deveria pedir
perdão.
7.
Encanto
dum laranjal feito flor.
Para quando o sumo doce
do fruto?
8.
O pastor pastoreia
também
alguma dor.
Que cabras cria
sem saber de que mães são?
9.
Tapa-se do frio
com a roupa que se tem.
Porém
a única pele que hoje tenho
deu-ma a minha mãe.
10.
Quando sentires vontade de parar
pensa naquilo que te fez começar.
....
Descansa o poema
Por vezes entorna as
Aprende as sombras na voz
Sobre a colina, larga o olhar
Agora, que descansou dos ventos
na descoberta de novas rotas.
sábado, 23 de janeiro de 2021
dourada prisão
[por minha livre paixão
aprisionei a minha vida
e todo o meu coração.]
pássaro em gaiola fechado
com asas perdidas no chão
o seu sonho foi apagado
na cabeça e no coração.
agora bate contra grades
enquanto canta a canção
de nostálgicas saudades.
já não pensa em fugir
tão esquecido o voar
que a vontade de ir
deste maldito lugar
transformado em prisão
mata-lhe a respiração.
sábado, 16 de janeiro de 2021
(des)Venturas no Armário escondidas
Eles furam as palavras
por dentro e
instalam o ódio
como sementre em campo virgem.
Arrasam as sílabas
destroem as vozes
fecham gargantas
queimam flores
lançam espinhos
matam amores.
Eles não estão sós:
o seu ideológico rancor
anda por aí
acompanhado
apoiado
(sempre andou)
disfarçado
para não se perceber
como nasce um ditador.
Pisam com as botas cardadas
os ventos da história
implantando velhas ideias fascistas.
Constroem muros
aprisionam livres pensadores.
Eles não sabem cantar
(nunca souberam)
mas tocam músicas para embalar.
Não sabem o que custa
acordar
alvoradas
de gargantas inchadas
a gritarem Liberdade.
Eles são aqueles que na sombra
manipulam falsos valores
e destilam antigos rancores.
São milhões
as vítimas
destes demagogos charlatões.
domingo, 10 de janeiro de 2021
desejo
foto net
1
quando de ti
meu corpo se acalmou
eras pensamento
intemporal desejo
dependente do crescimento.
2
praias espairecidas
de marés vivas
a perderem o nascimento
no registo da pele algo físico
a lembrar este mar que
do horizonte apaixonado se cativou.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
cidade em chamas
segunda-feira, 4 de janeiro de 2021
Despedida
Trinam as guitarras
do fado
"Lisboa, Menina e Moça"
sem a voz
que se calou.
E da memória
toda a cidade branca
se orgulhou.
(ao Carlos do Carmo -1939 -2021)