“Ou escreves algo que valha a pena ler ou fazes algo acerca do qual valha a pena escrever.” | Benjamin Franklin

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

margens

nadir afonso

dum tempo escondido
o amor
perdido
algures
entre continentes
e as carícias
dormentes.

jovens delírios
em jardins esquecidos
e os beijos prometidos
sem nunca se darem por tidos.

recuam as palavras 
amareladas
no tempo
das sombras dobradas.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Fala-me...

foto do autor


Fala-me da espera

nas estepes da escuridão

como astuta fera

a guardar crias e solidão.

Fala-me dos silêncios 

que teus beijos selavam

em gritos de liberdade

que eu tolo de vaidade

não soube apreender

o valor inocente da verdade.

Fala-me, amor 

como viveste antes do mundo

esse mundo desconhecido

para mim como inexistente.

Fala-me minha querida

da existência vivida

e da sorte da minha vida

na tua mão desprendida.

Fala-me como foi ....pois

um pouco de amor não é amor

mas serve de consolo na dor.


sonhar contigo

sonho com ela ou é ela 

que no sonho sonha comigo?

sonho o que conheço sem

que o sonho seja sonho do avesso.

e do sonho

todo o sonho é baseado no real

tão parecido mas por vezes 

distorcido

sem igual

como miscelânea sem sentido

na visão dum pequeno quintal

em noite sem luar. 

e mesmo neste espaço imaginado

guardo as impressões como se 

vivo fosse o sonho da vida a passar.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

a curva


Para lá da curva, a estrada
continua?

Nada se vê, nada se sabe, mas 
toda a lógica é a de uma estrada 
que é nada
ainda... até passar a curva da 
estrada, que foi e deixou de ser a
incógnita desta pergunta.

Vem isto a propósito da curva da 
noite estar mesmo à minha frente.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

movimento

1.

Retirei o poema do estendal
onde estava a secar.

Húmido e amarrotado
não o posso vestir
sem antes o engomar.

Amanhã é domingo
talvez não chova
talvez o possa passear.


2.

Se a vida fosse distraída
enganava-se na porta.

O carteiro tocou
para entregar um sopro de ar.


3.

Quando os valores
veem numa carta registada
há um défice de moral.


4.

Embalar a dor
é o mesmo que enganar o corpo.

Fica o espírito
sem saber para onde ir.


5.

Acordar a força
e respirar o mistério
das manhãs suspensas.

A noite pesou os prós e contras
nas contas
entre o deve e haver.


6.

Inquietação
é tanta
que já não se sabe onde pôr a mão.

Há sempre alguém
que deveria pedir
perdão.


7.

Encanto
dum laranjal feito flor.

Para quando o sumo doce
do fruto?


8.

O pastor pastoreia
também
alguma dor.

Que cabras cria
sem saber de que mães são?


9.

Tapa-se do frio
com a roupa que se tem.

Porém
a única pele que hoje tenho
deu-ma a minha mãe.


10.

Quando sentires vontade de parar
pensa naquilo que te fez começar.

....

Descansa o poema 
sobre a laje branca 
da memória. E bebe 
dos poetas a sábia 
aprendizagem das cores.

Por vezes entorna as 
tintas sobre a clara visão 
da vida, sem saber como 
chegar à contemplação da luz.

Aprende as sombras na voz 
interior da noite e 
nos silêncios das sílabas.

Sobre a colina, larga o olhar 
pelo extenso vale e faz eco 
do amor pela beleza.

Agora, que descansou dos ventos 
intemporais, 
segue ao sabor das marés,
na descoberta de novas rotas.