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Uma sinfonia de ausências
espalhava-se pelo corpo suspenso
como uma ave na copa das árvores
após escapar do cativeiro.
Sob a sombra imobilizadora da voz
ouvia longe os sons dum mar agitado
a bater nas fragas enraizadas
na teimosia duma existência sem fim.
Pensava naquela lua cheia de Agosto
a pratear-lhe o desgosto
em contraste com a harmonia deste dia.
Era um tempo que agora vinha despertá-lo
dentro do aconchego dormente da sua vida;
um desejo na hora vegetal; uma sêde
estendida ao sangue, em caudal de rios
intempestivos. E o movimento de todas as
árvores à sua volta, como se ele fosse um
minúsculo planeta, numa constelação de
recordações.
Dizem que as árvores morrem de pé
ao contrários dos homens com ou sem fé.
Deitado, via-as reclamarem da
incompreensão da sua linguagem, da sua
mensagem: o conhecimento dos ventos, da
imobilidade e do sofrimento; da luz crua das
manhãs; da chuva, benção e tormento; e das
noites solitárias em que, do silêncio, tiravam
prazer.
Incontidos os sentidos, sentia, no seu mais
profundo ser, todas as cores da alma
a dançarem, derramadas, na folhagem
verde daquele momento.
Estava só, mas tinha todo um mundo a
rodeá-lo.
"Estava só, mas tinha todo um mundo a rodeá-lo.". Este final de poema explica a sinfonia de ausências, a sede estendida no sangue, a luz crua das manhãs e das noites silenciosas e uma enorme inquietude do Poeta. Muito belo, Luís. Desejo que estejas bem. Um bom fim de semana.
ResponderEliminarUm beijo.