Por ela caminham os sonhos
que à partida eram desejos.
Faz-se o caminho sem reter o olhar
só com o imaginário no destino final.
Assim,
perde-se o momento irrepetível
rápidamente passar e, por fim, chegar.
"Cada segredo da alma de um escritor, cada experiência de sua vida, cada qualidade de sua mente está escrito em suas obras." - Virgínia Woolf.
Eh, fadista deste
fado de bela vista
Tens a glória deste
momento na velha pista
E no andar e no
falar, estás p’ra amar
És um ‘pintas’ no
gesto e no trajar,
Em boas fintas
rodeias tudo com o olhar
Sentes o corpo em palavras a sussurrar.
Eh, fadista marialva
feito Midas
Faroleias as viúvas
mais queridas
Cantas estrofes de
tabernas e cafés
Conversas de tretas
e parlapiés.
E a troco de nada
debitas lamirés.
Pois é, fazes-te à vida, alma ferida.
Pesam-te os anos e
os enganos,
E a brilhantina
escorre os cabelos
Já grisalhos, mas
bom de vê-los
Calças de ‘jeanes’,
camisa às cores
Dum amarelo berrante
de dores
Um lenço preto
escorrido e com flores
Sapatos rasos e
deslizantes de alto brilho
E no pescoço, pouco
escondido, dourado fio
Como o relógio, a
bracelete e a pulseira
Dão à figura um
marialva de cabeleira.
Fins-de-semana nas danças de salão
Espalhadas um pouco
por toda a parte
Esse condão
‘engatatão´ da tua arte
Encobrindo
palidamente a solidão.
Solto o salão aí vais tu dando uma mão
Lanças amores, pedes
favores, apertas dores
Puxas pró tango
várias estampas
De outros tempos e
outras pampas
Ora dançantes, ora
sentadas e alinhadas
O rouge intenso e báton vivo põe-nas coradas.
És bailarino, exímio, na escola de outras eras
Onde as horas não
eram de tantas esperas
Ficou-te o ‘bicho’
enraizado dum pé de dança
Em qualquer baile,
ou mera festa, desde criança
Mas esqueceste que tudo é feito de mudança
E agora trazes nos
olhos a já pouca esperança.
Dás a perninha em qualquer baile
Rasgando o espaço
desse cansaço
Saltas sem rede e
avanças a cada passo
És uma estrada
escura sem qualquer raill .
Nos intervalos bebes geladas umas ‘begecas’
E até pensas que vai
ser fácil dar umas ‘quecas’
Lembras as noites e
os bailaricos de S. João
O vinho verde a
madurar sardinha e pão.
As matinés, já não em boites ou cabarés,
São estas voltas uma
constante troca de pés.
Repimpas firme uma
silhueta de juventude
Lembrando os verdes
anos muito amiúde
Na música ao vivo, soalho antigo, e já comido
E o jantar fica
perdido e ouvido algo entupido.
Lá dás o corpo ao
manifesto e sem protesto
És suave sombra a
envolver o corpo delas
Mas ao deitar é que
são elas.
Perdes as velas.
Dói-te a alma, os
cansados pés e as costelas
Vês-te em alto-mar,
num barco a naufragar
Sempre picado, sem
sentinelas p’ra te acordar
Os pesadelos,
tristes flagelos, dormem contigo
Feito peão deste
destino bem à medida da solidão.
E, mais uma vez, dormes sozinho, como um mendigo …
Nos rios doces dos teus beijos
Há desejos
E as águas límpidas correm serenas
No meu peito.
Já não sei onde os pássaros
Vão poisar.
Talvez o seu ninho tenham feito
E de la' vejam o meu mundo
A seu jeito.
Mas eu sei que tanto voo
Tem um fim.
Tanto sangue a correr dentro
De mim
Há-de ser um caminho
Ao descanso no teu ninho.
Foi total o espanto
encontrado nos olhos dos peixes e das suas bocas famintas. Tinha sido decretada
a obrigação de descarregarem uma aplicação que, ate' agora era oferecida,
para quem a quisesse usar. Parecia um isco para juntar o cardume. Mas, agora,
como iriam comer sem evitar tão falsa refeição e sem denunciar quantos eram e
onde cada um se localizava?
-"Simples", disse o maioral
lá do sítio, reunido que fora uma assembleia para discutir tal determinação:
- " Vamos todos
nadar 'a volta do anzol até esgotar a energia e provocar um remoinho tão grande que há-de aparecer
alguém para tentar compreender esta confusão. Depois atiramos-lhe com o anzol.
Talvez tenhamos a sorte de comer!"