"Perdemos repentinamente
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos conservar
mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou."
in A Noite Abre Meus Olhos
José Tolentino Mendonça
O último degrau
foto: headtopics.com
Teus olhos perdidos
vagueiam na paisagem em ruínas
como se cinza e pó os quisessem habitar.
Surdos às dores
(esses alimentos sem sabores)
expandem o olhar
pela janela do combóio
sem retorno
que finalmente te há-de resgatar.
Tanto o cansaço e tanto o medo,
a fome, o desespero, a morte
a rondar,
que mais não podes balbuciar
a raiz da palavra mãe (terra de bem)
Partes
e a tua alma presa aos escombros
não sabe se teu corpo
um dia
dela se voltará a ocupar.
"Teus olhos perdidos
ResponderEliminarvagueiam na paisagem em ruínas
como se cinza e pó os quisesse habitar."
O começo deste poema, juntamente com a imagem que escolheste, dá-nos a noção de tudo o que as crianças podem sofrer por pressentirem que poderão não voltar ao chão onde nasceram, à "raiz da palavra mãe", porque sofrem, têm fome e medo e a morte anda rondá-los. Tão sensível e tão belo este poema, meu Amigo Luís!
Continuem a cuidar-se bem.
Um beijo.